domingo, 26 de fevereiro de 2012

Dupla descalvadense Alaor e Alceu interpreta composição de sua autoria, Torrão Natal - Visite www.alaorealceu.blogpost.com
Dupla descalvadense Alaor e Alceu interpreta composição de sua autoria, Pensamento do Cachaceiro - Visite www.alaorealceu.blogpost.com

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Trajetória


Quando criança ganhei um cavaquinho. Queria muito aprender a brincar com ele. Um dia esqueci ao relento, e choveu. Foi muito triste. Quando jovem ganhei um violão, mas não tinha professor na cidade, e ele ficou encostado. Em 2007, aos 35 anos, conheci um grupo que se reunia para aprender com um violeiro os acordes mais simples. Ano passado contratei o violeiro pra me ensinar a pontear. Faz um ano que comecei, e já ponteio mais de sessenta músicas. E vivo feliz da vida, agarrado na minha viola!

O mesmo rio


Dia desses cheguei na beira do rio Mogi, e fiquei cismando: -Esse rio que vejo nessa manhã, é o mesmo rio que contemplei ontem à tarde? A voz do vento me disse que sim, pois é o mesmo Rio Mogi Guaçu que conheço desde criancinha, quando ia pescar com o Vô João. Mas parece que um borbulhar me falou, lá do seu jeito de falar murmurando, que as águas são outras, e que o que passou já passou. Dei uma pitada no cachimbo, ajeitei a viola no peito e ponteei sentido, tentando saber que rio era aquele...

Suspiro da viola


Já ouvi dizê de vários causo de viola que toca suzinha, e dizem que é coisa do demo, ou de alma penada. Eu num querdito nessas coisa, não... Pra mim, a viola suspira de sodade... Sodade dos tempo de peão de boiadeiro, das comitiva, da vida na roça, dos desafios, do cheiro do mato, do cantá dos pásso, dos estalo do fogão di lenha, do chiado da chaleira, do borbuio das água do ribeirão, do suspiro das donzela... É muita sodade, meu Deus, é muita sodade...

HISTÓRIA DE UMA VIOLA

Eu fui árvore frondosa, na mata densa embrenhada, majestosa e bem copada. Um dia senti uma serra me separando da terra, me levando pra cidade. Lá conheci outra vida, fui torneada, esculpida pra trazer felicidade. Ganhei curvas de menina, um braço e cintura fina, e cordas bem afinadas. Ficou muita cicatriz, por baixo desse verniz, e eu fiquei bem acabada. Virei viola caipira, a saudade me inspira, e penso com emoçao: que serra tirou o caipira, que agora me dedilha, da raiz do seu sertão?

Feitiço do ponteio

Estava o caipira ponteando sua violinha talhada em madeira de lei, tosca, rústica, mas de uma sonoridade profunda, hipnotizante, que fazia sentir o cheiro da mata onde ela cresceu. E estava tão mergulhado na melodia envolvente, que nem se deu conta que a lua parara para ouvir a seresta. E também o vento se sentou nas folhagens, os grilos, os sapos, e demais bichos caboclos calaram seus alaridos noturnos, e até os corações pararam. E após o refrão, tudo recomeçou no ritmo da batida daquela viola.

Viola Almada

Diz que aquela viola, que andava no braço do poeta, era uma viola amada, que em noites de seresta sorria faceira seu riso solado, duetando chorada sua voz de madeira. Andou por todo sertão, nas noites de festa fêz serão, nas janelas das moças levou emoção, no lombo do baio, na mão do peão. Mas diz que o tempo apressado, deixou seu braço empenado, levou o cantadô. E de noite ela se insinua, toca sozinha, serena, magoada, pois que de tão amada, ficou com a alma do violeiro, virou uma viola almada.